segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Guerra e paz


Por muitos séculos, a discussão em torno da essência humana dividiu os filósofos em dois lados. De um, estão aqueles que acreditam que o homem é naturalmente inclinado à violência e à competição ou, como no velho provérbio romano, a idéia de que o homem é o lobo do homem. Prova disso seria o fato indiscutível de que a guerra, por exemplo, está presente na história de todas as sociedades. Do outro lado, estão os filósofos que acreditam que o homem tem uma natureza pacífi ca. Para eles, a violência da guerra, por exemplo, seria muito mais um desvio provocado por circunstâncias temporárias como a escassez de alimentos ou disputas territoriais que um traço humano inato. Por isso mesmo, toda guerra seria desumana.
De acordo com os pesquisadores do comportamento dos primatas, a disputa entre essas duas vertentes faz pouco sentido. Ou seja: não somos totalmente agressivos nem totalmente altruístas. Somos uma espécie bipolar, afi rma De Waal, lembrando nossa capacidade de, em alguns segundos, passar da compaixão à ira, do relacionamento estável ao sexo promíscuo, da cooperação à disputa feroz pelo poder. Ou seja: seríamos tão inclinados ao ódio quanto ao amor. Daí que qualquer tentativa de classificar o homem por apenas um desses pólos pode nos levar a ter uma visão simplista e deturpada da sociedade humana. Até porque nossas sociedades nunca são totalmente pacíficas ou competitivas, nunca são de todo regidas pelo egoísmo ou pela ética. Vemos bondade e crueldade, nobreza e vulgaridade, às vezes até na mesma pessoa, lembra De Waal.
De acordo com o pesquisador, mesmo que tenhamos, sim, predisposições inatas, isso não significaria que os humanos seriam espécies de atores cegos encenando programas genéticos da natureza. Assim como outros primatas, temos flexibilidade para improvisar e nos adaptarmos à natureza de diversas formas, mas com uma responsabilidade extra. Como nossa espécie conquistou a dominância sobre todos os demais, é ainda mais importante que ela se olhe com honestidade no espelho para conhecer tanto seu arquiinimigo como seu aliado, pronto para ajudar a construir um mundo melhor, diz De Waal. Ou seja: em vez de querer enterrar o fato de que somos primatas, devemos ter humildade para reconhecer que a beleza e a tragédia da vida do homem deriva do fato de que ser humano é ser um animal e não necessariamente no velho sentido negativo da palavra.

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